As primeiras falas


Há oitenta anos o cinema pronunciava suas primeiras palavras. A criação dos irmãos Lumiére surpreendia o mundo mais uma vez. Após décadas de silêncio, os espectadores podiam assistir a um filme com trilha sonora própria sincronizada às cenas e movimentos labiais dos atores.


Era a estreia de O Cantor de Jazz, protagonizado por Al Johnson. Ao contrário do que acontece hoje, a trilha sonora não estava incorporada ao filme. As falas e os cantos eram tocadas a parte em um disco de acetato.




Não que fosse incomum ouvir as vozes dos cantores ou a trilha musical de um filme durante uma sessão de cinema. Era comum na época do cinema mudo que atores, colocados atrás da tela de projeção, dublassem os personagens das tramas cinematográficas e que músicos tocassem ao vivo as músicas dos filmes. A diferença é que agora tudo vinha em um pacote único.


A partir daí os filmes mudos foram substituídos pelos falados. Hoje nós não nos importamos com esse fato. É algo tão comum para nós que parece insignificante, mas pensemos um pouco no que deve ter sido o impacto naquela época.


Como deve ter sido assistir a um filme em que era possível ouvir a voz do ator cuja perfomance era projetada na tela e ouvir as músicas sem a presença de artistas “auxiliares” para aquela projeção? Não é fácil para nós imaginarmos uma mudança tão brusca de técnica como essa.



Os efeitos visuais e sonoros são tão presentes em nossas experiências cinematográficas que muitos chegam a ridicularizar as primeiras produções do cinema. É uma pena ver esse tipo de atitude e não enxergar a criatividade dos primeiros diretores e produtores.


Imagino como deve ter sido o processo de sincronizar som e imagem durante a realização e a primeira exibição de O Cantor de Jazz, em 6 de outubro de 1927. O caminho entre a ideia e a sua concretização deve ter percorrido um caminho longo com vários fracassos.


Penso também como deve ter sido a concepção dos efeitos em Viagem à Lua, de George Méliès. Para os dias de hoje, as cenas do primeiro filme a abordar uma viagem para fora da Terra parecem toscas, mas suas soluções são de uma criatividade inquestionável.





Com orçamentos e recursos mais enxutos, como encenar a decolagem, o pouso e o retorno do foguete que levaria os primeiros astronautas à lua? As soluções encontradas para esses e outros dilemas de Viagem à Lua acabaram por caracterizar e tornar este filme tão marcante. Apesar de simples, os efeitos surpreendem até hoje e demostram a capacidade que o cinema tem de se apresentar com uma nova cara sempre..


Voltemos a pensar em O Cantor de Jazz, mesmo que a novidade não tenha sido tão impactante, deve ter despertado em todos um novo olhar sobre a recém-criada sétima arte. Diria que é a arte com a maior capacidade de reinvenção.


Lembrar do lançamento de O Cantor de Jazz é mais do que celebrar uma conquista do cinema. É celebrar a capacidade humana de se reinventar e criar novos caminhos para si.


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