Escritas


A essa altura, todos devem ter percebido o quanto a escrita é cara para mim. Alguns dizem que me entendem melhor pelos meus textos. Outros chegam a dizer que é possível ouvir a minha voz enquanto leem meus escritos. Seja qual for a categoria em que meu leitor se encaixe, o fato é que a escrita é uma parte muito importante da minha vida e de meu ser.


Enganam-se, no entanto, aqueles que pensam ser a escrita organizada pelo alfabeto a única que me interessa e me envolve. Sou fascinado, apaixonado e envolvido por outra forma de escrita. Refiro-me à escrita musical, às partituras, ou como querem muitas, àquelas bolinhas pretas compreendidas por poucos.



Há um aspecto de mistério em torno desse tipo de escrita. Muitos chegam a questionar a necessidade de se aprender a leitura de um sistema tão complexo. A base dessa argumentação se encontra no fato de que muitos músicos tocam muito bem sem saber o nome de uma nota sequer. Há também muitos poetas e contadores de causos populares que não reconhecem o desenho de uma letra do alfabeto. Seria o caso de tornarmos desnecessário o processo de alfabetização?


Ler uma partitura não é tão fácil. Por outro lado, não é um conhecimento esotérico fechado a poucos eleitos pela mão divina. Da mesma forma que não somos alfabetizados por meio de textos de Machado de Assis ou Luís de Camões, não podemos iniciar um processo de leitura musical com um poema sinfônico de Mussorgsky


É preciso ir da música mais simples para se chegar a uma fluência de leitura em peças mais complexas. É neste ponto as duas formas de escrita se tocam. O processo de aprendizado das duas formas de se escrever é contínuo. Há e haverá sempre leituras complexas que exigem leituras anteriores como pré-requisito.





Não há forma complexa de se escrever. Há um ser complexo que se inscreve no mundo por meio da obra de arte. A mesma complexidade pode ser encontrada em uma conversa normal. Não fosse por isso, não haveria tantas incompreensões e tanta necessidade de DR entre casais.


Poderíamos dizer o mesmo da fotografia, da escultura, da pintura e de tantas formas encontradas pelo ser humano para possibilitar sua inscrição na história. Escolhi, entretanto, a música e o texto “alfabético” pois estas me são íntimas o suficiente para me provocarem alguma cutucada que me faça pensar sobre a vida.

Toda forma de escrita tem por objetivo ser um reflexo da vida. Já abordei esse assunto em um post anterior. Nas escritas humanas nos vemos refletidos. Entender uma linguagem, portanto, é mais do que quebrar um código. É abrir a possibilidade de nos vermos a partir de uma outra perspectiva e nos entendermos melhor.


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