O lugar do lobo e de outros bichos



Tem esquentado na França o debate a respeito do extermínio de lobos no território daquele país. Após ter quase desaparecido das paisagens francesas nas últimas décadas, esse grande predador voltou à cena vindo da Itália, onde foi adotada a política de extermínio do lobo como forma de acabar com os ataques aos rebanhos italianos.

Na França, há também os que defendam a adoção da mesma política implementada na península itálica. Um dos defensores de tal medida é o presidente da Federação Nacional Ovina, Franck Dieny, que, apesar de achar o lobo um animal fascinante, pensa que o predador não tem lugar na sociedade francesa e custa muito caro ao contribuinte francês.

Após ouvir tais afirmações muitos podem ver no sr. Dieny um homem sem consciência ou sensibilidade ambiental, o que não seria incorreto. Entretanto, não podemos esquecer que ele é o representante de uma federação nacional e que, portanto, não fala de sua opinião pessoal. Neste caso, o sr. Dieny faz apenas ecoar a voz de muitos ovinocultores franceses que veem no lobo uma ameaça aos seus rebanhos e, consequentemente, às suas economias.



O problema é que esta opinião é compartilhada por muitos outros incautos que não enxergam o lugar da sociedade humana na dinâmica da natureza. Muitos podem até defender a presença do lobo na França mas não fazem o mesmo quando o assunto é um fragmento florestal habitado por predadores nacionais, como a onça ou o lobo-guará. Afinal de contas, precisamos abrir espaços para o crescimento econômico de nossa região e a cobertura verde a ser removida será compensada de alguma forma.

Posicionamentos como este são mais comuns e aceitáveis do que o feito pelo presidente da Federação Nacional Ovina da França. No entanto, a razão que os norteia é a mesma: a natureza não tem lugar na nossa sociedade. Fica então uma pergunta para todos: é a natureza que precisa ter lugar na nossa sociedade ou nós que precisamos encontrar nosso lugar na natureza?

É preciso lembrar que nós temos constantemente invadido espaços ocupados por várias espécies de seres vivos que tem relações estabelecidas entre si. Intrometer-se de qualquer jeito nesses espaços sem saber como funciona a dinâmica dos mesmos nos expõe a situações como a dos ovinocultores franceses. A ameaça de fato não é dos lobos, mas do desajustamento da humanidade a um espaço que é seu e de outros seres vivos.

PS: As mortes causadas de ovelhas por ataques de lobo na França não alcançam 0,5% do rebanho francês.
 

Comentários

  1. Ulisses, muito boa a reflexão. Cuidar da interação entre espécies, de forma equilibrada é uma missão humana, segundo a visão das escolas javista e eloista. Pensar o equilíbrio e o lugar do diferente no mesmo espaço é um desafio a ser aprendido e vivenciado.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas