Exótico, Étnico e Folclórico


Entrar em uma loja de CD’s é uma experiência bastante curiosa. À primeira vista todas parecem ser iguais, possuem as mesmas divisões de estilos, artistas e o sempre vasculhado balcão de ofertas. Parece que a divisão das lojas de CD’s tende a uma padronização universal. É como se houvesse uma globalização na distribuição dos espaços deste tipo de comércio. Isto tudo não se passa de uma mera impressão.

Esta experiência ganha outros aspectos se o admirador de qualquer gênero musical fizer uma visita a uma destas lojas localizadas em Londres, Genebra, Nova York ou de qualquer cidade dos chamados países de primeiro mundo. Nestas cidades, além dos estilos tradicionais como rock, pop, jazz e clássico, o consumidor de CD’s vai ter a sua disposição outras dois gêneros musicais, o Folk e a famosa World Music. Nesta última categoria estão incluídos músicos dos países latino-americanos, africanos, asiáticos e das ilhas do pacífico. Já os músicos tradicionais dos países ricos são sempre encontrados na seção destinada à música folclórica.

Esta distinção ingênua por parte dos donos de lojas de CD’s dos países ricos, esconde na verdade uma profunda divisão que marca o mundo atualmente e atinge vários aspectos das relações internacionais. O mundo fica assim divido não só entre países ricos e pobres, desenvolvidos e subdesenvolvidos, mas também entre os países que seguem a norma padrão e os de cultura exótica.

É o retorno da velha mentalidade colonizadora na qual a Metrópole dita às suas colônias a norma padrão que deve ser seguida. A mentalidade produzida nas últimas não passaria de uma espécie de tesouro arqueológico muito interessante para ser investigado e compreendido por especialistas das universidades e centros de pesquisas mais avançados do mundo mas que pouco tem a contribuir com o pensamento desenvolvido nestas catedrais do saber científico.



Não é por acaso que surge hoje no mundo um protesto geral contra o modelo globalização que vigora atualmente no mundo. A principal acusação que se faz a tal modelo é de principalmente ser desenvolvido a partir de uma mentalidade ocidental que leva em consideração apenas o interesse de uma minoria de países ricos do mundo e desconsidera os valores, crenças e visões de mundo tradicionais de outros povos. Assim são supervalorizados os produtos gerados a partir de uma tecnologia de ponta em detrimento dos produtos agrícolas. Como aconteceu com a vinda da família real portuguesa ao Brasil em 1808, aos países emergentes lhes é imposta uma obrigação de abrir seus portos às nações amigas e ricas como condição para um desenvolvimento econômico, mas estas últimas oferecem seus portos fechados aos produtos agrícolas dos primeiros.

Os acordos internacionais e organismos multilaterais têm sido acusados de funcionar de acordo com esta mesma lógica. Prova disto é o barulho dos protestos que ecoa em toda cidade escolhida para abrigar uma reunião da Organização Mundial do Comércio, do Fundo Monetário Internacional e o entusiasmo do Fórum Mundial Social realizado em Porto Alegre.

É preciso, portanto, que se discuta urgentemente um meio de tornar as relações entre estes dois mundos mais justas para que a globalização possa ser usufruida por todos. No entanto, para que isto aconteça é preciso que haja um diálogo em que os países ricos e a sua contrapartida emergente e pobre participem como iguais. Só assim nossos produtos deixarão de ser iguarias exóticas para entreter o paladar de europeus e norte-americanos.



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