Sobre as bicicletas

Sobre andar de bicicleta sempre se ouve duas coisas. A primeira é que, apesar dos tombos iniciais, é muito fácil andar de bicicleta. A segunda frase sobre esse veículo de transporte é que, após o doloroso processo de aprendizagem, ninguém esquece como andar de bicicleta.

Apesar de concordar com as duas frases, não posso deixar de acrescentar um outro pensamento a respeito da nossa querida magrela. Percebi, por meio de minha observação e pelas notícias de mortes de ciclistas, que muitos de nós, apesar de não esquecer como se anda de bicicleta, nos esquecemos do que é ser ciclista. A impaciência com a lentidão do trânsito e com a pouca velocidade das bicicletas, a pressa em que se move a sociedade e o mundo modernos, a coisificação das pessoas e a personalização das coisas faz com que muitos motoristas, especialmente os de veículos de grande porte, enxerguem o ciclista como um obstáculo a ser eliminado do meu caminho.


Por isso, achei interessante a iniciativa do presidente da câmera de vereadores de São Paulo que decidiu adotar a bicicleta como seu veículo de transporte de sua casa ao trabalho. Pode-se até questionar a decisão de José Police Neto e qualificá-la de eleitoreira ou qualquer outra coisa do tipo. A iniciativa, no entanto, serve para chamar atenção para pensarmos as formas de locomção que empregamos em nossas cidades e questionarmos o imperativo categórico em que se transformou a posse de um carro.

Parece que caiu no esquecimento o verdadeiro objetivo da implantação de qualquer sistema de transporte. Ficou para trás a ideia orginal de que os meios de transporte servem para que nos locomovamos de um ponto a outro em uma velocidade maior do que o de nossas pernas. Por ter se tornado um símbolo de liberdade, autonomia e potência, o carro se impôs como a única forma de locomoção digna. Até se abre alguma exceção para motos, desde que estas sejam uma Harley Davidson ou equivalente.

O problema é que a questão é coletiva e que, portanto, só pode ser solucionada com uma resposta coletiva. Apesar de vivermos em um sistema em que os valores e direitos individuas são cada vez mais ressaltados, não há como se crer em soluções individuais para o problema da mobilidade urbana. A realidade nos mostra o contrário. Vemos que o crescente número de carros e motocicletas tem acarretado em mais poluição atmosférica e sonora e em um trânsito cada vez mais lento. Pode-se chegar ao absurdo de ver a frustração de carros caros e potentes sendo obrigados a andar a uma velocidade máxima de 30 Km/h.

Não é possível se dizer até quando esta situação pode perdurar, mas quem sabe se, ao colocarmos em prática nosso "saber" andar de biciclta, poderemos começar a vislumbrar outras soluções mais saudáveis e menos estressantes. É preciso tentar!

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