Cem anos depois

Parece que foi ontem. Esta é a primeira reação que temos ao nos recordar de fatos marcantes de nossa vida pessoal. Invariavelmente tal observação se segue da constatação de nossa caminhada pela velha estrada da vida é mais extensa do que pudemos perceber.

Outra forma de se chegar a mesma conclusão é quando um sobrinho ou primo mais novo começa a estudar para a próxima prova de História fatos da vida política, cultural, econômica ou social que nós testemunhamos com nossos próprios olhos. Foi a impressão que ao tive ao saber que o impeachment do Collor, os caras pintadas, o começo da velha Nova República e os planos Sarney e Verão eram matéria do último vestibular.

Apesar de não ser sobrevivente do Titanic e nem ter ficado atônito ao ler nos jornais a manchete do incrível naufrágio do navio mais moderno do mundo, eu também fico com a mesma impressão. Parece que, de tanto ser narrado, comentado, documentado, o desastre do Titanic parece acontecer sempre. É como se o intervalo de tempo em que tudo aconteceu ficasse aprisionado em algum universo paralelo em que o trágico evento de 15 de abril de 1912 se repetisse sem parar.

Considerado "inafundável", o Titanic se transformou em uma parábola viva da arrogância humana sobre as forças da natureza. É bom lembrar que, durante a sua única viagem, o transatlântico portava 20 botes salva-vidas para atender 2.240 passageiros. Assim, podemos dizer que não foi somente um navio magnífico que afundou com mais de 1.500 pessoas. Naufragou também a arrogância dos seus construtores e do Império Britânico que se orgulhava de nunca ver o sol se por, já que suas colônias estavam por toda parte.

Já passaram-se cem longos anos, mas parece que foi ontem. Às vezes é bom que assim seja para que não nos esqueçamos de nossa fragilidade diante da natureza e sua força, que é muito maior do que qualquer tecnologia que inventarmos.

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