Conto de um ponto

Às vezes parece que contos são pontos que saltam como pulgas na cabeça de alguém. Pulam tanto que ultrapassam os limites do crânio do infeliz autor. Daí é só escorregar para a mão e formar linhas, narrativas e paisagens.

Essas narrativas naturalmente têm personagens que são como pessoas formadas a partir de linhas construídas pela união de pontos. Os personagens, por sua vez, precisam de deslizar sobre outras linhas, as narrativas. Afinal, personagens e pessoas só são o que são por causa das suas histórias e narrativas.



Assim, as nossas vidas e narrativas prosseguem até que chegue o ponto final. Um ponto colocado pelo autor decidido em acabar com a agitação dos pontos rebeldes e transgressores dos limites de sua cabeça. Esse ponto traidor confina os demais ao espaço da narrativa, limita o direito de ir e vir dos demais pontos e lhes dá uma finalidade: o fim da história que só recomeça quando retomamos o seu início. Como se diz por aí quem conta um conto sempre aumenta um ponto.

O que seria de nossas vidas sem os pontos?



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