Começo de conversa

Hoje resolvi escrever algo neste espaço. Pensei em escrever alguma crônica, uma história qualquer. Foi então que me deparei com a inevitável pergunta: como surge uma narrativa? Por menor que seja, qualquer história tem de vir de algum lugar.

Depois de algum tempo de reflexão conclui: vem da mesma fonte em que surgem as boas conversas. A diferença é que todas as boas conversas tem no mínimo dois autores. Já as boas histórias podem ser escritas por um só.

Toda conversa é sobre algum lugar em que os seus participantes não se encontram. É como se a boa conversa nos fizesse revisitar os tempos de criança quando nossos parentes mais velhos nos ajudavam a dormir com a famosa frase “Era uma vez..”.

O famoso “Era uma vez…”, como toda boa conversa, nos remete primeiro a um lugar e depois a um tempo. Precisamos de precisar a conversa. Saber onde e quando ela passa, qual é o cenário em que nossos personagens vão desfilar.

Quando esse desfile começa, nossa conversa passa a ganhar vigor. Sabemos que é o personagem principal, o seu antagonista e os coadjuvantes. Geralmente, a diferença entre a boa conversa e a fofoca se estabelece aí. No caso da fofoca, o personagem principal é sempre o antagonista dos narradores da história.

Assim ficamos informados sobre o que acontece com os nossos conhecidos, parentes, amigos e amigos de amigos. Narramos e comentamos coletivamente sobre a vida de todos os que fazem parte de algum círculo de relacionamento e desta forma criamos os nossos mitos do cotidiano. Pessoas ganham rótulos e identidades que vão além dos seus documentos e se tornam o grande pescador, o pegador do departamento, a periguete da rua, a mal amada do bairro, etc.

São histórias que nas nossas bocas se transformam em conversa, em narrativa oral. Assim nos transformamos em autores anônimos de histórias que circulam além dos nossos círculos e se convertem em potenciais lendas urbanas ou não.

Pode até não ter sido um dos meus melhores textos, mas cumpriu a minha função de contar uma história. Não foi uma narrativa sobre Fulano da Silva ou Beltrano de Souza. Foi uma história sobre como surgem as histórias.